terça-feira, 29 de junho de 2010

05 de Dezembro de 1482

Público Destinado: Para pessoas como o grande
e ilustríssimo autor José Saramago. Sem medo da morte.

A morte não é nada para nós, pois, quando existimos, não existe a morte, e quando existe a morte, não existimos mais. Epicuro

Era uma noite de lua minguante, Eileen me olhava com seus olhos verdes, porém baços. Ela não colocava mais confiança em mim por causa de minha decisão. Era dia 03 de dezembro, faltavam apenas dois dias para o que ia acontecer. Dei tempo ao tempo. Eu sou Mark, tenho 32 anos, e moro aqui, neste mundo vivo que é Rondônia. Vivo eu, minha esposa e meus dois filhos Evelin e Henrique. Evelin tem 14 anos e é uma menina meiga e inteligente - não estou elogiando porque é minha filha, e sim porque ela merece. Henrique, tem 16 e terminará o terceiro ano do segundo grau no dia 05 de dezembro. É um menino educado, porém, atônito. Vivia em complicações com más amizades. Eileen... Ela é a mulher mais perfeita do universo. Realmente, ela é uma dádiva de Deus. O melhor presente que eu já recebi na vida. Pensante, inteligente, esperta e cativante. Eileen conseguiu a minha confiança e conseguiu ser minha esposa. A vida sem ela - para mim - não era nada.


04 de Dezembro - A véspera
A vida para mim - retirando Eileen, Evelin e Henrique - sempre foi injusta, e amanhã, ela irá cometer a maior das injustiças. Sempre havia um pretexto para eu "quebrar a cara". E um deles, aconteceu hoje de manhã. A mãe de Eileen, dona Susana, veio aqui hoje para arrumar os preparativos da festa de amanhã - a formatura de Henrique - e também, dormir pois as atividades festivas dariam-se início pela manhã. Ela chegou e quem abriu a porta foi Evelin. Oi vovó, como a senhora está bem! Que bom que a senhora veio nos ajudar hoje. Ela - Susana - soltou um sorriso tênue e disse Não me importo de vir preparar a formatura de meu formando lindo! Ela virou-se para Henrique e soltou mais outro sorriso. Ele a abraçou e disse Estava com saudades. Todos foram para o quintal e Eileen estava esperando todos lá. Ela já estava forrando as mesas com um tecido de cetim dourado. Susana começou a colocar vasos de orquídeas em cima de cada mesa forrada. O cheiro das orquídeas exalava com o vento por toda a casa. Peguei uma das cadeiras e sentei. Susana falou grosseiramente comigo Mark, vá agora na sala pegar a minha bolsa, s'il vous plait. (Esqueci de dizer que ela era francesa naturalizada brasileira. Daí os nomes: Eileen, Susana, Evelin) Tenho bastante respeito às mulheres e em bolsas delas, eu não pego. Silenciei-me e continuei apreciando o cheiro suave das orquídeas. Ela sabia que eu não pegava em bolsas de mulheres, e ainda por respeito! Nem mesmo a da minha doce mulher eu mexo. Susana foi até mim, me olhou e disse Eu quero que você vá pegar a bolsa agora. Rencontrez-moi! Eu sai dali. E Eileen foi até mim. Ela falou Porque isso Mark? Porque essa implicância? Vocês dois?! Explique-me, por favor. Olhei pra Eileen e disse Mais um motivo para o realização do acontecimento de amanhã. Subi às escadas e tomei uma ducha fria e fui dormir. Acordei meia noite em ponto. Era noite de lua minguante e dessa vez, o céu estava bordado com brilhantes estrelas. Fiquei observando-as. Henrique apareceu na porta e disse Pai, amanhã? Será que vai dar tudo certo? Olhei para ele e tranqüilizei-o dizendo que ia tudo como nos conformes. E que nada ia estragar este dia. Ele foi dormir, e eu, acompanhei-o.




05 de Dezembro - O dia
Acordei às 8 da manhã, para relaxar-me um pouquinho. A minha presença só era necessária quando fosse a entrega dos diplomas (e isso só aconteceria à tarde). Aproveitei o dia para desfrutar de um bom café preparado por Eileen. Esbanjei-me com o delicioso café e fui para a cama. Li um livro que estava em cima da mesa de cabeceira. Quando eu o abri, estava um bilhete. E a letra era de Eileen.


Porto Velho, 05 de Dezembro de 1482
Mark,
Escrevo estas doces e últimas palavras para não dizê-las na frente das crianças. 
Foi muito bom estar com você esses 25 anos. Sinto-me honrada de ter tido um marido como você. Lindo, inteligente, maturo e, exacerbadamente vivido. Queria viver mais 25 anos ao seu lado, e se fosse possível, reviver os outros 25 anos para relembrar os momentos de nossas vidas juntos. Se digo que te amo, impedir-lhe dessa decisão ínvia seria uma coisa erradíssima. Pois, é o que você quer. E eu, como sua amada não irei impedir. Amo-te. 
Eileen


Lágrimas começaram a brotar naqueles olhos de um coração de pedra. Mark dormiu. Quando acordou, eram 16:00hs. Faltavam 30 minutos para ele estar presente na formatura do filho.  Ele se arrumou e olhou para o relógio. Ainda eram 16:15. Ele dormiu mais uma vez. Quando acordou, já eram 17:00 ele saiu correndo até o espaço onde ocorria o evento. Quando chegou lá, seu filho o viu e foi correndo até ele. Mark pegou uma faca, e atirou-a em si próprio e disse: Eu te amo. Cuide de sua mãe e de sua irmã. Henrique explodiu em prantos de joelhos ao corpo do pai. Não tinha medo da morte e essa coragem o fez querer conhecê-la. Ele morreu no dia 05 de dezembro de 1482.


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